MARCADORES DE CARDIOPATIA ISQUÊMICA

Por Agenor Gomes Neto - dezembro 10, 2018



Uma das principais causas de mortalidade em todo o mundo são as Doenças Cardiovasculares. Estas são responsáveis, muitas vezes, pelas ocorrências de admissões em emergências clínicas ao apresentarem sintomas clínicos característicos de isquemia cardíaca. 

As Síndromes Coronarianas são ocasionadas por obstruções no fluxo sanguíneo dos vasos que irrigam o músculo cardíaco. Essas obstruções podem ocorrer a partir de fenômenos tromboembólicos ou vasoespasmos que levam a apresentar sintomas como aperto, pressão, peso e dor torácica. A sintomatologia apresentada leva a suspeita de patologias como a angina instável e o infarto agudo do miocárdio com ou sem supradesnivelamento do segmento ST. 

Diante do exposto, faz-se necessário durante o atendimento clínico a realização de um eletrocardiograma para averiguar alterações do segmento ST a fim de dar importância a um diagnóstico rápido, já que é necessário uma terapia de reperfusão imediata. 

O eletrocardiograma nem sempre pode auxiliar na diferenciação do diagnóstico de isquemia ou infarto do miocárdio, visto que em outras condições, alterações podem ser observadas. Biomarcadores cardíacos são essenciais para que se possa realizar um diagnóstico definitivo. 

Os biomarcadores podem ser classificados quanto a sua especificidade geral na fisiopatologia, tais como marcadores de necrose (mioglobina, troponinas e creatinoquinase isoenzima MB), marcadores inflamatórios (proteína C reativa, interleucina-6, fator de necrose tumoral-alfa e D-dímero) e marcadores de disfunção cardíaca (peptídeo natriurético tipo B - BNP). 

Os marcadores de necrose talvez sejam os exames mais pedidos numa rotina de emergência. Estes por si já conseguem, juntamente com a clínica do paciente, definir um diagnóstico de cardiopatia isquêmica. Os demais exames são essenciais, podem auxiliar para a definição da causa e servem como marcador preditivo de morbidade e mortalidade.
A interpretação é um ponto muito importante para o diagnóstico, visto que a sensibilidade e especificidade dos marcadores variam. 

A Enzima creatinoquinase MB (CK-MB) é um marcador mais específico do que o CK-total, pois está em maior quantidade no músculo cardíaco quando comparado a outros sítios. Entretanto, é menos sensível e específico que as troponinas. Sempre que disponível, é indicado dosar a sua quantidade (CK-MB massa) e não CK-MB atividade, por motivos de acurácia para a lesão miocárdica. 

As Troponinas I e T são proteínas exclusivas do complexo fibrilar de contração miocárdica, por isso sua alta especificidade. Apesar de serem específicas, outras ocasiões como sepse, trauma cardíaco e miocardites, por exemplo, podem ocasionar a sua elevação no plasma. A dosagem de troponinas é considerada padrão ouro pela alta especificidade e sensibilidade. Sua lenta liberação após o dano cardíaco leva a persistência na corrente sanguínea, enquanto que sua meia vida é de duas horas. Isso leva a necessidade da realização do exame na admissão e após 6 e 9 horas. 

A mioglobina é uma proteína de baixo peso molecular e por este motivo é um marcador prévio de lesão, ou seja, ele é o primeiro a aumentar no plasma, definindo a sua alta sensibilidade. No entanto, não é cardioespecífico por estar aumentado em situações de lesão muscular esquelética, por exemplo. A mioglobia é útil quando avaliada juntamente com os demais marcadores. 

A proteína C reativa (PCR) é uma proteína de fase aguda sintetizada pricipalmente pelos hepatócitos. Em processos inflamatórios ocorre a sua elevação no plasma, possuindo meia vida de 19 horas. A PCR é regulada pelas interleucinas 1 e 6 e pelas demais citocinas inflamatórias. Sua relação com doenças isquêmicas se dá por apresentar papel de marcador inflamatório e de doenças ateroscleróticas. 

Interleucina-6 é uma citocina pró-inflamatória que eleva-se devido a patogênese da síndrome coronariana aguda, estimulando a produção de fibrinogênio e PCR. 

Os D-dímeros são produtos da degradação da fibrina pela plasmina no processo de fibrinólise. Sua elevação plamática está associada a processos de tromboembolia venosa. Este marcador é útil no diagnóstico precoce de isquemia coronariana em pacientes com infarto agudo do miocardio, e preditor de risco de infarto em pacientes saudáveis. É utilizado também para exclusão diagnóstica. 

Peptídeo natriurético tipo B (BNP) é um neuropeptídeo sintetizado principalmente nos ventrículos e liberados em situações de estresse muscular quando há dilatação e sobrecarga de pressão ventricular. Estudos evidenciam que sua elevação é um dos melhores preditores de alto risco de morte ou insuficiência cardíaca. 

A tabela abaixo demonstra os principais marcadores de cardiopatia isquêmica comparando a sensibilidade, especificidade e tempo de elevação, pico e permanência no plasma. 

Adaptado de Silva & Moresco (2011).

As doenças cardiovasculares isquêmicas necessitam de um diagnóstico rápido e preciso para que seja possível realizar um tratamento imediato e diminuir o risco de morte e sequelas ao paciente. Fica claro que os marcadores cardíacos desempenham um papel fundamental neste processo. Os marcadores de necrose tumoral, mais especificadamente as troponinas, são consideradas ainda padrão ouro para o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio. 






Referências/fonte
SILVA, S. H.; MORESCO, R. N. Biomarcadores cardíacos na avaliação da síndrome coronariana agura. Scientia Medica. v. 21, n. 3, p. 132-142. 2011.
TELÓ, G. H.; FURTADO, M. V. Cardiopatia isquêmica. In. XAVIER et al. Laboratório na prática clinica. Porto Alegre: Artmed. ed. 2, p. 147-149. 2011.
LEMOS, K. F. et al. Prevalência de fatores de risco para síndrome coronariana aguda em pacientes atendidos em uma emergência. Rev. Gaúcha Enferm. v. 32, n. 1, p. 129-135. 2010.
Imagem da capa: witanworld.com.

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