O BIOMÉDICO PERFUSIONISTA

Por Unknown - junho 23, 2015

A Circulação extracorpórea (CEC) ou também chamada de perfusão extracorpórea, teve início no dia 6 de maio de 1953 quando o médico John Gibbon da Universidade Médica de Jefferson, realizou a circulação numa cirurgia em uma paciente portadora de comunicação interatrial.

A CEC compreende o conjunto de máquinas, aparelhos, circuitos e técnicas mediante as quais se substituem temporariamente, as funções do coração e dos pulmões, enquanto esses órgãos ficam excluídos da circulação. As funções de bombeamento do coração são desempenhadas por uma bomba mecânica e as funções dos pulmões são substituídas por um aparelho capaz de realizar as trocas gasosas com o sangue.

O desenvolvimento da perfusão extracorpórea, permitiu aos cirurgiões parar o coração, incisar suas paredes, examinar detalhadamente o seu interior e corrigir as lesões existentes sob visão direta.

A circulação normal

Na circulação natural, o sangue desoxigenado ou venoso, que cedeu oxigênio aos tecidos, retorna ao átrio direito, através das duas grandes veias cavas, superior e inferior. Do átrio direito, o sangue alcança o ventrículo direito de onde é bombeado para a artéria pulmonar e seus ramos para, finalmente, atravessar a rede capilar pulmonar. Nos capilares pulmonares o sangue recebe o oxigênio do ar contido nas vias aéreas dos pulmões e nelas elimina o dióxido de carbono. Após as trocas gasosas nos capilares o sangue arterializado é coletado pelo sistema de veias pulmonares e dirigido ao átrio esquerdo, de onde alcança o ventrículo esquerdo e é bombeado para a aorta e seus ramos arteriais, percorrendo o sistema arterial, arteriolar, e capilar, na intimidade de todos os tecidos. Nessa imensa rede capilar do organismo, o sangue cede oxigênio e outros elementos nutritivos aos tecidos e capta o dióxido de carbono e outros dejetos produzidos pelo metabolismo celular. Após passar pelos capilares dos tecidos, o sangue alcança o sistema de vênulas e veias que convergem para formar as grandes veias cavas superior e inferior, retornando novamente ao coração.

A circulação extracorpórea

O sangue venoso é desviado do coração e dos pulmões ao chegar ao átrio direito do paciente, através de cânulas colocadas nas veias cavas superior e inferior. Daí, por uma linha comum, o sangue venoso é levado ao oxigenador, onde, através de um percurso por câmaras especiais, recebe oxigênio e elimina gás carbônico e, em seguida, é coletado para ser reinfundido ao paciente. Do oxigenador, e já “arterializado”, o sangue é bombeado para um ponto do sistema arterial do paciente, geralmente a aorta ascendente, de onde percorre o sistema arterial e é distribuído a todos os órgãos, cedendo oxigênio aos tecidos para a realização dos processos vitais, e recolhendo o dióxido de carbono neles produzido.

O perfusionista

O desenvolvimento da circulação extracorpórea e as suas novas tecnologias  introduzida na sala de operações, gerou a necessidade de um profissional qualificado para ministrar os procedimentos.

Alguns anos atrás, quem manuseava os aparelhos da perfusão era apenas um técnico com habilidades práticas, somente! Com o desenvolvimento de novas tecnologias e o melhor conhecimento da fisiologia e da fisiopatologia, a circulação extracorpórea exigiu profissionais especializados para a adequada administração dos equipamentos. É onde entra o biomédico!


Perfusionista é um membro da equipe cirúrgica com pré-requisitos definidos na área das ciências biológicas e da saúde, com conhecimentos básicos de fisiologia circulatória, respiratória, sanguínea e renal, de centro cirúrgico e esterilização e com treinamento específico no planejamento e ministração dos procedimento de circulação extracorpórea.


Perfusionista é o profissional treinado e capacitado em operar os maquinários de circulação extracorpórea, seleção dos dispositivos descartáveis em cirurgias torácicas e cardíacas, sendo o responsável pela manutenção das atividades vitais do organismo, durante a realização da devida cirurgia, e também manter o devido funcionamento da circulação sanguínea que no momento está sendo operada pelos órgãos artificiais mantendo o paciente em equilíbrio hidro-eletrolítico, hemodinâmico, pressórico, sanguíneo . Dessa maneira, tem uma função tão importante quanto anestesista e cirurgião. Então deve haver uma cooperação entre ambos, tornando assim o trabalho um grande êxito, com o devido reconhecimento para a equipe.


Quando falamos em Perfusão logo imaginamos que este auxiliará em cirurgias cardíacas, mas ela também contribui para diversas outras cirurgias como a neurocirurgia, cirurgia de tumores renais, cirurgias de tumores da traqueia, Cirurgias de transplante de fígado, em determinadas patologias pulmonares reversíveis e como método exclusivo de assistência circulatória, para falência de um ou de ambos os ventrículos, em pacientes não operados ou candidatos a cirurgia imediata.


Regulamentação 

A Lei 1587/07 determina a regulamentação do exercício da atividade de perfusão cardiocirculatória e respiratória. Exercício da profissão se restringe a profissionais de nível superior das áreas de saúde e biológicas, com curso de formação especialmente designado para esse fim, ou seja, você biomédico ou estudante de biomedicina pode se especializar, pois a grade curricular de seu curso permite. 

O que faz um biomédico perfusionista?
  • Coordena e administra as atividades do serviço de Perfusão.
  • Planeja a previsão, requisição e controle dos materiais e equipamentos utilizados nos procedimentos de circulação extracorpórea, especialmente oxigenadores, circuitos, reservatórios, filtros, cânulas, termômetros, fluxômetros, e demais acessórios;
  • Examina e testa os componentes da máquina coração-pulmão, controla sua manutenção preventiva e corretiva, conservando-a, permanentemente, em condições de uso;
  • Obtém informações no prontuário e com a equipe médica, sobre a história clínica do paciente; verifica a existência de doenças ou condições que possam interferir na execução, ou requerer cuidados especiais com a condução, da circulação extracorpórea, tais como diabetes, hipertensão arterial, doenças endócrinas, uso de diuréticos, digitálicos e anticoagulantes;
  • Obtém os dados biométricos do paciente, idade, peso, altura e superfície corpórea, para cálculo dos fluxos de sangue, gases, composição e volume dos líquidos do circuito;
  • Calcula as doses de heparina para a anticoagulação sistêmica e de protamina, para sua posterior neutralização;
  • Fornece ao cirurgião os calibres mínimos das cânulas aórtica e venosas, adequadas aos fluxos sanguíneos a serem utilizados;
  • Obtém do anestesista os parâmetros hemodinâmicos do paciente, desde a indução anestésica, para a sua manutenção durante a perfusão;
  • Sob o comando do cirurgião, executa a circulação do sangue e sua oxigenação extracorpórea, monitoriza as pressões arteriais e venosas, diurese, tensão dos gases sanguíneos, hematócrito, nível de anticoagulação e promove as correções necessárias;
  • Induz o grau de hipotermia sistêmica determinado pelo cirurgião, através do resfriamento do sangue no circuito do oxigenador, para preservação metabólica do sistema nervoso central e demais sistemas orgânicos; reaquece o paciente ao final do procedimento;
  • Prepara e administra as soluções destinadas à proteção do miocárdio, através de equipamentos e circuitos especiais para aquela finalidade;
  • Administra os medicamentos necessários ao paciente, no circuito extracorpóreo, sob protocolos com a equipe, como inotrópicos, vasopressores, vasodilatadores, diuréticos e agentes anestésicos;
  • Encerra o procedimento, retornando a ventilação ao anestesista, após o coração reassumir as suas funções, mantendo a volemia do paciente e as condições hemodinâmicas necessárias ao bom funcionamento cardio-respiratório;
  • Controla a presença de anticoagulante residual e administra o seu antagonista, para neutralizar completamente as suas ações;
  • Preenche a ficha de perfusão que contém todos os dados relativos ao procedimento, bem como o balanço hídrico e sanguíneo, para orientação do tratamento pós-operatório;
  • Ministra, com o mesmo equipamento, assistência circulatório mecânica temporária, quando necessária;
  • Participa das atividades de ensino e treinamento aos demais elementos da equipe, inclusive estudantes, internos, residentes e estagiários;
  • Participa das reuniões clínicas de discussão dos casos a serem operados, para conhecimento dos pacientes e suas patologias
  • Participa de pesquisas clínicas, básicas ou de experimentação;
  • Participa de cursos, reuniões, palestras, simpósios, grupos de trabalho e congressos, para sua educação continuada e aperfeiçoamento profissional.


Referência/fonte
Câmara dos deputados. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=359638.
SBCEC. Disponível em: http://www.sbcec.com.br/br/index.php/26-home/slider/17-informe-se-sobre-perfusao.html.
SOUZA, Maria Helena L.; ELIAS, Decio O. Fundamentos da Circulação Extracorpórea. 2. ed. Centro Editorial Alfa Rio. Rio de Janeiro. 2006.

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